100 Anos de Bauhaus
No rescaldo da Primeira Grande Guerra viveu-se um cenário até então sem paralelo na história da humanidade, provocando enormes mudanças na sociedade, na política e no pensamento.
A urgência da reconstrução social teve um efeito profundo na arquitectura: o Movimento Moderno abraçou essa missão, cujo impacto cultural perdura ainda hoje.
…e, em grande medida, o motor dessa visão modernista foi Walter Gropius.
Water Gropius respondeu às dificuldades do pós-guerra de forma simultaneamente utópica e pragmática: fundando uma escola de artes e ofícios de um novo tipo, que rejeitasse as velhas tradições e aceitasse as fortes responsabilidades sociais que as circunstâncias da época exigiam.
A sua intenção era a de agregar talento, energia e intelecto num esforço comum, numa nova estética capaz de suprir as necessidades básicas da sociedade, com qualidade, durabilidade e funcionalidade, unindo arte e indústria.
Sobre essa vontade utópica assentou uma sede de conhecimento insaciável e uma experimentação estética ilimitada sobre as quais se construiu aquele que é o vocabulário plástico mais impactante na arquitectura e design contemporâneos.
Em 12 de Abril de 1919 foi concedida a Gropius licença para o estabelecimento da Bauhaus em Weimar e, nessa data, iniciou-se uma revolução.
Hoje associamos a Bauhaus a um certo tipo de modernismo austero -que reconhecemos em alguns exemplos de arquitectura industrial, em blocos de apartamentos ou em edifícios institucionais de meados do século XX- mas a Bauhaus foi muito mais do que isso: a Bauhaus gerou uma nova forma de pensar.
Na verdade, embora “Bauhaus” signifique “Casa da Construção” e o seu manifesto afirmasse que o derradeiro propósito de toda a actividade criativa era a edificação, a escola não ensinou arquitectura até 1927.
O objectivo primeiro de Gropius era o de criar um novo tipo de artista “total”, capaz de abordar qualquer desafio criativo eliminando a fronteira entre as belas artes e as artes oficinais. No panorama deprimente do pós-guerra, a Bauhaus tornou-se um bastião do cosmopolitismo, do internacionalismo, do avant-garde.
A escola representava assim, inevitavelmente, o exacto oposto do nazismo -nostálgico, nacionalista, racista. Em 1933, apenas 14 anos depois da sua fundação, o regime provocou o seu encerramento. 14 anos suficientes para que se transformasse na escola de arte e design mais impactante da história.
Ironicamente, esta perseguição à Bauhaus por parte do III Reich foi o que garantiu a sobrevivência do seu legado: com Gropius e Mies van de Rohe exilados nos Estados Unidos, a filosofia da escola espalhou-se pelo globo.
Em 1938, o MoMA de Nova Iorque fez a sua primeira retrospectiva da Bauhaus numa exposição que se tornou um fenómeno.
Em 1969, 36 anos depois do seu encerramento, o efeito da Bauhaus continuava incrivelmente presente e cheio de vitalidade, com uma exposição de enormes dimensões em Paris que reuniu todo o espólio artístico, académico e teórico da escola, num conjunto que deixou marcas profundas numa nova geração de artistas e arquitectos.
Na véspera dos 100 anos da fundação da Bauhaus, o Tate Modern, o Boijmans van Beunigen ou o Garage de Moscovo são apenas alguns dos museus e galerias que continuam hoje a celebrar o legado da escola.
Mesmo forçada a uma curta história, a Bauhaus veio para ficar.
“Arquitectos, escultores, pintores, devemos todos regressar aos ofícios! Não existe uma “arte oficinal”. Não existe diferença de natureza entre o artista e o artesão. (…) Formemos então uma corporação de um novo tipo, uma corporação sem essa separação de classes que erige um muro de desdém ente artesão e artista. Todos em conjunto conceberemos e realizaremos a arquitectura nova, a arquitectura do futuro, onde pintura, escultura e arquitectura não serão mais do que um, e que, das mãos de milhões de obreiros, se elevará um dia em direcção ao céu, símbolo de cristal de uma nova fé.”
Walter Gropius
Manifesto da Bauhaus, 1919