Do Mundo Que Nos Dá Forma
Infelizmente, quase tudo o que vemos das nossas janelas é construído, mas não foi “desenhado” em nenhum sentido mais elaborado da palavra.
A razão para tal, para além das considerações financeiras, é que a maior parte das construções são encomendadas para dar resposta apenas dois aspetos -por um lado as normas e regulamentos a cumprir, pelo outro as necessidades funcionais a que a construção deve dar resposta- recorrendo ao mínimo de recursos -espaço, tempo e dinheiro- possível. A estética, a sua composição, como será experienciada pelos seus utentes -no fundo, como é “desenhada”- é muitas vezes considerado irrelevante.
A distinção entre arquitectura e construção -entre o desenho para prazer estético e o desenho para a função- é enganadora, errada, e defunta. O impacto que o ambiente construído e o seu desenho tem nas nossas vidas é tão profundo que não pode ser secundarizado.
A boa arquitetura -sistematizada, ordenada, com padrões, que explora as sensações, as texturas dos materiais, e que desenha sequências deliberadas de espaços- cria lugares coerentes (desde as paisagens e grandes espaços urbanos até aos mais pequenos e modestos edifícios) que têm uma influência profunda na vida humana: dão forma à nossa perceção, às nossas emoções, às nossas ações e à nossa identidade.
Winston Churchill, depois da destruição alemã da Câmara dos Comuns no Parlamento de Londres, apelou aos parlamentares britânicos para que votassem a favor da reconstrução da câmara na sua forma retangular original, com duas longas bancadas frente a frente simbolicamente representando o sistema bi-partidário que, acreditava, constituía a espinha dorsal da democracia parlamentar Britânica. “Damos forma aos edifícios, e em seguida eles dão-nos forma a nós”, declarou Churchill.
Quanto mais aprendemos acerca de como as pessoas experienciam os ambientes onde vivem as suas vidas e o impacto enorme que têm no seu bem-estar, desempenho e saúde, mais evidente se torna que um ambiente bem desenhado é uma necessidade crucial e um direito humano básico.
Hoje, mais do que nunca, com os meios de sempre e com as mais recentes tecnologias, é possível desenhar incorporando todas as complexidades do nosso mundo social, as especificidades do lugar, as necessidades do nosso corpo e dos nossos sentidos, e a forma como experienciamos o espaço ao longo do tempo.
Há muito a fazer, mas as grandes mudanças podem começar com pequenos avanços, casa a casa, bairro a bairro, parque a parque. O ambiente construído é composto por uma soma de construções, lugares e paisagens individuais: cada uma delas pode ser enriquecedora ou esmagadora, dependendo de como é desenhada.
Para o melhor e para o pior, os edifícios e as paisagens dão literalmente forma à nossa vida e a nós próprios. Desenhar e construir ambientes ricos, informados por tudo o que hoje sabemos acerca do como as pessoas vivem e reagem aos lugares que habitam será um importante motor de desenvolvimento humano.
Um melhor ambiente construído deve ser o nosso legado para as próximas gerações.