Foi apresentado, no passado dia 26 no Auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra, o livro “Encontros de Arquitectura II, Escola de Coimbra”, sintetizando a reflexão de 2018 sobre a prática da arquitectura e da Escola através do percurso de oito antigos alunos do Departamento de Arquitectura da Universidade de Coimbra.
Esta publicação, que temos o gosto de integrar, foi editada pelo Departamento de Arquitectura da Universidade de Coimbra sob a curadoria de João Mendes Ribeiro e a coordenação e produção de Luísa Bebiano.
O Espigueiro-Pombal do Cruzeiro é um lugar de serenidade e de introspeção, de forte ligação com a natureza e connosco próprios.
As suas raízes são modestas, pragmáticas, criativas e sofisticadas no seu desenho e soluções.
Construído no final do século XIX, o seu ponto de partida foram dois espigueiros sobre bases graníticas. Uma cobertura comum reuniu-os, debaixo da qual se deu forma a um pombal. O espaço entre ambos os espigueiros usou-se como sequeiro, com dois grandes painéis basculantes controlando a ventilação.
Foi possível a documentação integral do desenho e das técnicas construtivas do edifício tal como era até perder o seu uso, abrindo portas para uma reposição elemento a elemento do Espigueiro-Pombal, com um minucioso redesenho de todos os detalhes de carpintaria e um conjunto muito limitado de intervenções cirúrgicas que permitirão a sua renovada e segura utilização.
Duas novas escadas escamoteáveis encaminham-nos para o interior de ambos os espigueiros e uma escada interior ergue-se até ao espaço do pombal, finalmente tornando esse espaço mágico acessível.
Estas humildes construções estão em rápido desaparecimento: atualmente sem utilização e aparentemente
sem potencial para transformação, são silenciosamente desmanteladas. Não se lhes reconhece valor suficiente para estudo ou documentação sistemática: logo que desaparecem, nunca existiram.
Este exercício procura ilustrar que estas construções podem produzir experiências espaciais de grande qualidade, mantendo vivos documentos construídos de uma arquitetura popular muito especial, recorrendo a recursos e conhecimentos locais e tornando-os pertinentes mesmo depois do seu uso agrícola ter terminado.
O Espigueiro-Pombal do Cruzeiro é agora um santuário entre as copas das árvores, uma forma icónica na paisagem rural minhota, e a experiência das sombras bruxuleantes das ramas, da brisa suave que o cruza e dos chilreares nos finais de tarde estivais define, por inteiro, o seu novo propósito, função e uso.
Tiago do Vale Arquitectos 