O Hotel da Casa do Castelo é um projeto de alteração proposto para dois edifícios na Rua Dom Paio Mendes, junto à Sé de Braga. O uso principal terá sido dominantemente habitacional, tendo o piso térreo funcionado em alguns momentos da sua história como serviços e comércio, dada a comunicação direta com a rua.

Considerando o interesse patrimonial dos edifícios, tanto pelo seu contexto quanto pela qualidade da sua arquitetura, o projeto privilegia uma intervenção direcionada para a reabilitação e restauro das características originais do edificado. No entanto, resultante da falta de uso e consequente abandono, as duas construções têm sido alvo de um acelerado processo de degradação. Sendo esta a maior ameaça à sua permanência, a intervenção torna-se, de facto, numa ação urgente.

Assim, no sentido de se manterem os elementos originais passíveis de recuperação, procedeu-se ao mapeamento do seu estado de conservação. No decorrer dos anos em estes edifícios que foram ocupados a sua configuração original sofreu fortes alterações, consequência de uma adaptação aos usos sucessivos que se foram dando. Um forte indício dessas transformações é, em ambos os casos, a fachada tardoz, que se vira para o interior do quarteirão. A linguagem desta fachada, desvalorizada por não ser tão evidente, é dissonante em relação às principais, acusando uma sobreposição de tempos distintos e partes discordantes. No edifício a poente, por vezes apelidado de “Casa do Castelo”, terão sido improvisados vários fogos, justificando a presença dos pisos intermédios hoje existentes que se serviram do pé-direito generoso dos pisos originais para aumentar a área utilizável e a sua rentabilidade. A subdivisão desajustada dos espaços originais, não sendo coerente com a linguagem que se reconhece neste tipo de construção, ter-lhes-á retirado o caráter nobre de outrora. Posteriormente, aquando da sua desocupação, os vãos foram entaipados, sendo que grande parte das carpintarias (caixilharias, rodapés, molduras, guardas, e mesmo soalho) estavam já desaparecidos, despindo a “Casa do Castelo” e potenciando fortemente o processo de descaracterização. Dos elementos sobreviventes, destaca-se o imponente acesso vertical, que liga o primeiro ao segundo piso, criando um pé-direito duplo rematado por uma claraboia que conserva ainda os detalhes originais. Restam também alguns dos detalhes em gesso, nos tetos e em algumas molduras, ainda que bastante degradados por infiltrações, e as pinturas de algumas das paredes.

Já o interior do edifício a nascente, pouco conta da sua história. Para além das evidências presentes nas paredes estruturais que denunciam o posicionamento de possíveis escadas restam apenas algumas das paredes mais robustas onde se encontram escassos vestígios de carpintaria. Estes espaços já esvaziados, quer por transformações profundas quer pela forte degradação e ruína, constituem a oportunidade de infraestruturar o edifício, resolvendo neste ponto problemas estruturais e de acessibilidade que permitem qualificar todo o conjunto, de acordo com padrões contemporâneos, sem colocar em causa os elementos com valor histórico e patrimonial sobreviventes.

Assim, a proposta para estes dois edifícios passa por alterar o seu uso, transformando-os num hotel. 

Nas fachadas viradas para o interior do quarteirão procurou-se uma linguagem mais homogénea e qualificada, inspirada na imagem das construções do centro histórico e do desenho de elementos que citem soluções tipológicas próprias da época e deste tipo de arquitetura. 

Quanto à organização interior, procurou-se preservar os espaços sobreviventes desenhando-se o programa à sua volta. Assim, recupera-se-se a escada e os elementos que a ela estão associados, assim como as três salas sobreviventes, cujo estado de conservação permite ainda operações de restauro e mantendo a sua configuração original. Procurou-se dedicar a estes espaços programas comuns, para que o seu usufruto seja o mais abrangente possível. 

Em suma, apesar da alteração ao uso que torna viável esta obra, prevê-se que sejam mantidos todos os espaços e elementos recuperáveis. Estes elementos, como carpintarias e marcenarias, serão por norma restaurados, reproduzindo-se qualquer elemento irrecuperável ou em falta. As pinturas, estuques e todos os outros elementos decorativos presentes serão igualmente alvo de conservação. Nos espaços novos, propõe-se manter a leitura deste tipo de construção, procurando referências no existente, com uma adequação às exigências contemporâneas.