Revista Rua 24, 30

Amor e Arquitetura



Histórias de amor na arquitetura são muitas: algumas felizes, outras trágicas, umas contadas, outras sussurradas.

O Taj Mahal é, provavelmente, a mais célebre de todas: um monumento heroico do Imperador Shah Jahan para a sua esposa (a terceira de muitas, mas a preferida) construído após a sua morte em 1631. Mais de 20 mil escultores, artistas e artesãos foram levados a Agra para concretizar uma obra-prima sem limites, terminada em 1653.

Mais próximos de nós, Aline e Eero Saarinen. Eero Saarinen foi um arquiteto finlandês/norte-americano, célebre pelo seu desenho de mobiliário para a Knoll e por obras emblemáticas como o Arco de Saint Louis ou o Centro da TWA no Aeroporto Internacional de John F. Kennedy.
Aline era uma célebre crítica de arte e editora no The New York Times: conheceram-se quando foi destacada para entrevistar o célebre arquiteto. No final da entrevista, os seus destinos estavam já marcados. Encontravam-se casados menos de um ano depois.
A sua relação era invulgarmente igualitária para a época: apoiavam-se mutuamente nas suas intensas carreiras profissionais e partilhavam as obrigações domésticas.
Os Archives of American Art publicaram a sua correspondência pessoal, revelando um delirante e divertido espólio de cartas, notas, recortes e declarações de amor que testemunham a paixão duradoura do casal, interrompida pela precoce morte de Saarinen, em 1961.
Aline tomou como missão cuidar da herança de Saarinen, dirigindo a execução dos seus projetos incompletos (alguns dos quais se tornariam, precisamente, o seu mais importante legado) e publicando aquele que é ainda hoje considerado o volume definitivo sobre a sua obra: Eero Saarinen on His Work.

A Farnsworth House é uma das obras mais célebres do modernismo: a famosa casa de vidro de Mies van der Rohe.
Por detrás da sua história reside outra, menos conhecida, mas que irá explodir em breve por via de uma longa metragem protagonizada por Jeff Bridges.
Edith Farnsworth, médica proeminente de Chicago, encomenda em 1945 uma casa de fim de semana a Mies, depois de o conhecer durante um jantar.
Nas suas memórias, descreve o seu primeiro encontro com Mies como algo de efeito tremendo, como uma tempestade, uma inundação, ou outro ato de Deus.
Depois de duas horas de atento silêncio, Mies largou uma única frase: “I would love to build any kind of house for you” [Eu adoraria construir qualquer tipo de casa para si].
A alegada relação romântica, no entanto, cedo azedou, levando a uma série de processos legais entre ambas as partes: o rumor dizia que Mies não via com bons olhos a ideia de ir incluído com o projeto da casa.
Deslizes orçamentais, a inadequação da casa como habitação, honorários por pagar, tudo serviu de arma de arremesso nesta luta entre pares.

A casa foi finalmente terminada em 1951 e, durante os próximos 21 anos, Edith passou lá os seus fins de semana, ocasionalmente recebendo notáveis do mundo da arquitetura para apreciarem o trabalho de Mies, até que a construção de um viaduto nas imediações tornou o local menos bucólico.
Edith recolheu-se na sua villa em Itália e a Farnsworth House permanece hoje como o culminar dos ideais modernistas europeus, em Illinois, E.U.A..