Há programas que, embora à partida possam parecer pouco interessantes acabam por, inesperadamente, possuir um enorme potencial latente.
Este pequeno complexo agropecuário é exemplo dessa situação: com um programa elementar -pocilga, coelheiro, ovil e galinheiro- sobre um contexto rural muito interessante, com uma forte pendente, muros de suporte graníticos pré-existentes e um cenário de fundo florestal autóctone, o desenvolvimento do seu processo de arquitetura resultou num desenho singular de enormes qualidades.
Tendo como temas o nosso entendimento sobre a arquitetura vernacular com os materiais correntes disponíveis hoje, os requisitos do seus clientes “não-humanos”, os desafios topográficos e um custo de construção reduzido, o foco centrou-se na produção de um desenho extremamente cuidado.
O complexo faz parte de um programa de equipamento turístico em espaço rural, sendo, portanto, simultaneamente um equipamento agropecuário focado no bem estar dos animais que o habitam e um ponto de interesse para os hóspedes que o visitam. O programa turístico propõe aos seus hóspedes uma experiência do espaço, cultura, sabores, vivências, tradições e conhecimentos da vida rural minhota.
O complexo agropecuário situa-se como contraponto ao programa de hotelaria, afastado dele, sendo os dois programas mediados pela eira pré-existente. Estas modestas construções foram, consequentemente, tratadas com a mesma intensidade com que desenvolveram todas as peças do conjunto turístico.
Sobre socos em betão bruto aparente, colocam-se blocos de cimento cuja métrica define todas as dimensões do conjunto. Os espaços encerram-se com chapa ondulada galvanizada e com panos de rede em losango.
O programa agropecuário integra um percurso por toda a propriedade que liga realidades agrícolas e realidades florestais, e é, ele próprio, desenhado como um percurso ao longo das suas várias peças, complementando a experiência da ruralidade por parte dos hóspedes e permitindo a interação com os animais (especialmente no ovil).
O conjunto culmina no galinheiro que, dramaticamente empoleirado sobre o terreno, é rematado por um mirante junto da copa das árvores.
Produziu-se, assim, um conjunto integrado, em que todas as partes se afirmam, num delicado equilíbrio de forma e proporção, em diálogo com a geografia.







